terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Mito de Cassandra

 



1. Cassandra, Biblioteca de Apolodoro, Atenas




                                                 2. Cassandra a e Ajax, 550 a. C




                                                         3. Ajax tomando Cassandra, c. 440–430 a. C. Louvre




                                                          4. Cassandra e Ajax- ânfora de terracota, c. 450 a. C.   





5.Ajax, o Menor, em Tróia, arrasta Cassandra de Palladium diante dos olhos de Príamo - mural romano da Casa de Menandro, Pompeia.


Ájax conhecido como Ájax, o Menor ou Ájax, o Lócrida é filho de Ileu, rei da Lócrida, e provavelmente de Eriópide, citada na Ilíada como esposa de Ileu e madrasta de Medonte, filho bastardo de Ileu.

Liderou um destacamento de lócridas, durante a Guerra de Troia, desempenhando um papel importante.

Foi um dos guerreiros que se ocultaram no interior do cavalo de madeira (Cavalo de Troia) e abriram os portões da cidade de Troia, para a entrada do exército grego.

Dentro do palácio real, encontrou a princesa Cassandra junto do altar dedicado à deusa Atena e abusou dela.

Relatos posteriores  referem que esse ato provocou a ira da deusa, levando-a a pedir ajuda a Posídon, para que se vingasse da afronta, pelo que o deus dos mares fez o guerreiro naufragar, na  tempestade que se abateu sobre a frota grega, no seu regresso à pátria.

No entanto outros afirmam que Ájax conseguiu escapar e após recobrar os sentidos, troçou de Posídon por não ter conseguido matá-lo. Posídon irado ergueu-se das águas do mar com o seu tridente e projetou  o corpo de Ájax contra uma  rocha.




6.Ilustração em xilogravura da profecia de Cassandra sobre a queda de Tróia (à esquerda) e sua morte (à direita), de uma tradução alemã do Incunábulo de Heinrich Steinhöwel de De mulieribus claris de Giovanni Boccaccio, impressa por Johann Zainer em Ulm ca. 1474.


                                                 7. Ajax e Cassandra de  Johann Heinrich Wilhelm Tischbein, 1806


8.Ájax e Cassandra, Joseph Solomon, 1886


9..Helena e Cassandra, ilustração de Frederick Sandys (1832–1904)

A cena mostra a profetisa Cassandra repreendendo Helena, vendo-se Troia em chamas ao fundo,  demonstração metafórica de raiva. 


10. Cassandra a profetizar.



                    11. Cassandra coloca-se sob a proteção de Pallas, Aimé Millet (1819-1891). Jardim das Tulherias. Paris




                                     12.Cassandra, estátua no Jardim de Flores de Kroměříž, Pernak, República Checa


13.Clitemnestra matando Cassandra


14. O assassinato de Clitmnestra c. 350 - 320 a..C.



   15.Busto de Cassandra, de Max Klinger (Leipzig,  1857-1920).




           16.Cassandra, Evelyn de Morgan, 1898, De Morgan Foundation, Battersea, London.




Cassandra

 Cassandra ou Alexandra, como também aparece designada, era uma mulher capaz de envolver os homens. 

 Cassandra e Heleno, seu irmão gémeo, eram filhos da rainha Hécuba de Troia e do rei Príamo. Quando crianças gostavam de brincar no Templo de Apolo. Um dia, cansaram-se tanto que acabaram por adormecer no templo e aí passaram a noite. Nesse tempo, serpentes  passaram a língua pelas suas orelhas, o que lhes deu maior sensibilidade auditiva, tornando-os capazes de ouvir a conversa dos deuses.

 Com o passar dos anos, Cassandra tornou-se uma mulher de uma beleza magnífica, servidora fiel de Apolo. A dedicação dela era tanta, que Apolo enamorado ensinou-lhe os mistérios da profecia. No entanto, Cassandra não correspondeu ao amor de Apolo o que enfureceu o deus.

 Então Apolo resolveu vingar-se: como já não podia tirar-lhe o dom de profecia que lhe tinha dado definitivamente, o deus fez com as pessoas não dessem credibilidade às previsões de Cassandra, sendo a mesma tida como louca.

 Desta forma, ninguém acreditou quando anunciou ao povo de Troia, em guerra com os gregos, múltiplas desgraças e catástrofes. Quando  Páris nasceu, Cassandra profetizou que ele seria causa do aniquilamento de Troia.

 A falta de confiança nas suas  profecias levou à queda de Troia, depois de Cassandra ter visto fracassar as suas tentativas de pedir a Príamo que ele destruísse o cavalo de madeira, enviado por Ulisses a Troia, como oferenda aos deuses, mas afinal  com o objetivo de vencer a guerra interminável.

 Quando os gregos conquistaram Troia, Cassandra foi dada a Agamémnon que com ela partiu para Micenas. Ao chegar, entretanto, Agamémnon foi morto por Egisto amante de Clitemnestra, sua mulher, ou pela própria Clitemnestra.

 Existem várias versões do mito e cada uma difere da outra quanto aos acontecimentos.

 Um deles refere que Cassandra partiu para a Cólquida, e lá fundou, com Zakíntio, uma nova cidade, já que ele tinha recebido dos deuses uma mensagem para que fundasse um local unindo-se a uma sacerdotisa.



A Mulher na Grécia

 

A mulher na Grécia Antiga tem um papel secundarizado.

Hesíodo proclama que a mulher dotada de seduções é um calamitoso presente dos deuses  aos  homens. Com efeito, a mulher aos seus olhos é Pandora.

Na Teogonia, refere Hesíodo:

“Dela nasceu a raça e a sucessão maldita das mulheres

Flagelo terrível instalado no meio dos homens mortais”

 Avança que quem confia nas mulheres confia nos ladrões, logo terá que contar com os seus gastos, e com a sua futilidade e falta de vergonha.

No entanto, aconselha o marido a dar atenção à sua mulher.

Com efeito, as mulheres, sobretudo, as de condição nobre têm um papel importante em tempos de crise. Não se confinam ao Gineceu e saem acompanhadas de servas para saber notícias ou intervir.

Em casa, devem permanecer em aposentos a elas destinadas, o Gineceu.

O contemporâneo de Homero ou de Hesíodo pode ter uma ou mais concubinas, mulheres compradas ou prisioneiras de guerra. Porém, só pode ter uma esposa, resultado do casamento, no qual se efetuou uma troca cerimoniosa de presentes.

A mulher desposada não é propriedade do marido, que é o seu senhor, pode puni-la, repudiá-la, matá-la em caso de adultério, o que deve evitar para não se sujeitar à vingança da família da mulher.

Um casamento entre grandes famílias é, assim, um verdadeiro tratado, efetuado segundo um cerimonial rigoroso.

Apesar do que foi dito, surgem casos de esposas que se sentem ultrajadas e que se revoltam por diversas formas. No presente mito, vemos Clitemnestra invocar o sacrifício que Agamémnon faz da filha Efigénia, mas também o ciúme de o ver entender-se com Cassandra, para tratar da sua vingança.

No entanto, as mulheres nobres possuíam importância política, mantendo, quase, uma posição semelhante à dos homens. Este facto é confirmado pelas esculturas e pelas pinturas da época.

Também as poetisas que entraram em concursos de poesia em pé de igualdade com os homens, possuíam um estatuto semelhante. Exemplo disso é Corina, poetisa arcaica da cidade de Tanagra, que escreveu cinco livros (dos quais sobreviveram alguns fragmentos), epigramas e poemas narrativos.  

As sacerdotisas no período homérico, arcaico e clássico, também mantinham uma posição privilegiada na sociedade, sendo a função de sacerdote desempenhada tanto por homens, como mulheres.

É certo que transformações ocorridas no período clássico determinaram alguma secundarização da mulher na sociedade.  No entanto, a existência de mulheres como sacerdotisas manteve-se e o acesso ao cargo continuou a fazer-se, como anteriormente, com as mesmas prerrogativas detidas pelos homens.

  

Cassandra em Ilíada de Homero

 

Canto XXIII

O cróceo manto já abrira na terra a solicita Aurora.

Guinado os corcés, à cidade chegaram, por entre gemidos,

Prantos e dores; os mulos seguiam com o corpo. Notado

Ninguém os tinha, nem Teucros nem Teucra de cinto elegante.

Com exceção de Cassandra, tão bela quanto aura Afrodite,

Que da alta Pérgamo, o pai conhecera, de pá na carruagem,

Junto do arauto que tem por ofício apregoar na cidade.

Viu o cadáver, também. Sobre o leito que os muitos traziam.

Soam por toda a cidade seus gritos e tristes lamentos.

”Vinde, Troianos e Teucras, a Heitor contemplar, esse mesmo

Que, quando vivo, folgáveis de ver, ao voar dos combates,

Por ser o gáudio de Troia, por ser para todos um ídolo.

Homero, Ilíada (em verso) Tradução Carlos Alberto Nunes, São Paulo, Ediouro, p. 376


Cassandra é figura central na peça de Ésquilo, Agamémnon.

Na peça As Troianas, de Eurípides, Cassandra, a virgem consagrada a Apolo,  sacerdotisa, é reduzida a despojo de guerra, que enlouquece com o sofrimento, após  a destruição de Troia e da sua família. 

A loucura de Cassandra expressa-se pela  clarividência, que acentua o sofrimento e é sublinhada pela ironia dos seus esponsais com Agamémnon.

No poema épico A Queda de Troia de Quintus Smyrnaeus, Cassandra toma medidas físicas para evitar o desastre fabricado pelos gregos.




17.A primeira página de Troilus e Cressida, impressa no Primeiro Fólio de 1623.


Shakespeare baseou-se em uma série de fontes, em particular na versão de Chaucer 's, Troilus e Criseyde, mas também no livro de John Lydgate ' s Troy  e Caxton, tradução 's do Recuyell dos Historyes de Troye.




                                                                              18. Cressida por Edward Poynter (1836 -1919)



Cassandra em Shakespeare

Cena III: Troia

Andrómaca – Desde quando tem meu senhor tão mau humor para fechar os ouvido às advertências? Tirai as armas e não luteis hoje.

Heitor – Vós me obrigais a ofender-vos; entrai! Por todos os deuses eternos, eu irei!

Andrómaca – Meus sonhos, ficai certo, pressagiam um dia funesto.

Heitor – Basta, já disse

(Entra Cassandra)

Cassandra – Onde está meu irmão Heitor?

Andrómaca – Está aqui, minha irmã, armado e cheio de intenções sangrentas. Uni-vos às minhas veementes e ternas súplicas. Imploremos-lhe de joelhos, pois sonhei com uma refrega sangrenta e passei toda a noite só vendo formas e imagens de morte.

Cassandra  - É verdade!

Heitor – Mandai tocar minha trombeta!

Cassandra – Em nome do céu, meu doce irmão, que não seja toque de partida.

Heitor – Ide embora, já vos disse. Os deuses me ouviram jurar.

Cassandra – Os deuses ficam surdos aos juramentos temerários e violentos. São oferendas profanadas, mais repulsivas do que as manchas nos fígados das vítimas oferecidas ao sacrifício.

(...)


     19. Cassandra, Troilus e Cressida. Edwin Austin Abbey (c. 1908)

Cassandra

                      Schiller

 O poema Cassandra de Schiller foi escrito no início de Fevereiro de 1802 e publicado no Taschenbuch für Damen für das Jahr 1803. Resultou da partilha de ideias entre Schiller e Goethe.

 

A alegria enchia os átrios de Troia,

Antes de a grande cidadela cair,

Por todo lado, soavam hinos de júbilo,

Em cordas de ouro a luzir.

As mãos de todos repousam, cansadas,

Após a lacrimosa contenda,

Porque o Pelida glorioso a bela filha

De Príamo pede em casamento.

E, coroada de loureiros tenros,

Em festa a multidão se agrupa,

Para os templos se encaminha,

No altar do Timbreu  se ajunta.

Num abafado torpor, nas vielas,

Espalha-se a báquica alegria,

E, no abandono da sua dor,

Apenas um coração triste surgia.

Sem alegria, na abundância alegre,

Votada ao desamparo e só,

Em silêncio, vagueava Cassandra,

Nos bosques de loureiros de Apolo.

Nas profundezas mais obscuras

Procurava refúgio a vidente

E, tirando a faixa de sacerdotisa,

Irada, exclamou, veemente:

“A todos se abrem as portas da alegria,

Todos os corações são abençoados,

E os pais venerandos esperam

A minha irmã, de noiva, adornada,

Só eu tenho de me penar sozinha,

Pois de mim se aparta o doce enlevo,

E, a aproximar-se das muralhas,

Vejo a destruição em seu segredo.

Um archote vejo a brilhar,

Mas não na mão de Himeneu,

Para as nuvens se encaminha

Mas não é oferenda ao céu.

Alegres se aprontam os festejos

Mas, num augúrio funesto,

Já escuto a disputa dos deuses

Que os destruem cruelmente.

E das minhas queixas desdenham,

E escarnecem da minha dor,

Só, tenho de levar para os desertos

O meu coração sofredor,

Sendo pelos ditosos evitada

E para os felizes um escárnio!

Severamente me castigaste,

Pítico, tu, malévolo deus!

Para anunciar o teu oráculo,

Por que me enviaste à cidade,

Onde habitam os cegos eternos,

Se tenho o espírito iluminado?

Porque me levaste a ver

O que não me é concedido mudar?

O determinado tem de acontecer,

O temido tem de se aproximar.

De que serve levantar o véu,

Onde a tragédia se ameaça?

A vida vivemo-la no erro,

E o conhecimento é a morte.

Leva, oh!, leva a triste claridade,

Leva de mim o seu brilho sangrento!

Terrível é ser arauto fatal

Do teu conhecimento.

A minha cegueira, dá-ma de novo

E o seu sentido alegre, obscuro.

Não mais cantei canções felizes

Desde a tua voz asseguro.

Deste-me o futuro de presente,

Mas privaste-me do momento,

Levaste-me as horas felizes da vida.

Toma de volta o teu falso presente!

Jamais com as grinaldas nupciais

Os meus fragrantes cabelos coroei,

Desde que, ao desventurado culto,

No teu altar me consagrei.

A minha juventude foi só choro,

E apenas conheci a desilusão,

Cada rude anseio do meu ser

Ruiu no meu sensível coração.

Alegres se preparam os festejos,

Tudo, à minha volta, ama e vive,

Da juventude de alegres prazeres

Resta-me o coração destruído.

Em vão me aparece a Primavera,

Para alegrar a terra festiva.

 

Para quem a vê, nos seus abismos,

A quem poderá alegrar a Vida!

Felicito a ditosa Políxena,

Com o seu coração ébrio de ilusão,

Pois ao melhor dos Helenos,

Núbil, espera dar a mão.

Orgulhoso, o seu peito eleva-se

O doce anseio quase enlaça

Nem a vós, celestiais, lá em cima,

Ela inveja, em seu abraço.

E também o vi aquele, que o meu

Coração ansioso escolhe. (1)

Iluminados pela chama do amor,

Os seus belos olhares suplicam.

De bom grado partiria com o esposo,

Para o calor da minha casa,

Mas, à noite, há uma sombra estígea

Que, entre ele e mim, se insinua.

Todos os seus pálidos fantasmas

Me envia Prosérpina,

Por onde erro, por onde vagueio,

Há espectros que me esperam,

Na juventude de alegres folguedos

Interpelam-me cruelmente,

Num tumulto aterrador,

Nunca posso estar contente.

E vejo brilhar a espada assassina,

E os olhos da morte brilham,

Nem à direita ou à esquerda,

Posso escapar ao pesadelo.

Não posso voltar os olhos,

Sabendo e olhando; sem parentes,

Tenho de cumprir o meu destino,

 

Caindo em terra de outras gentes”.

E ainda se ouvem as suas palavras,

Escuta! Num estrépito confuso,

Lá longe, nas portas do templo,

Jaze morto o grande filho de Tétis!

Éris sacode as serpentes,

Todos os deuses fogem

E nuvens de trovões abatem-se

Sobre Ílion estrepitosamente.

Tradução de Maria do Sameiro Barroso

( 1) - Otrioneu ou Coribo  



                                                               20. Cassandra, 1903. Artist: Klinger, Max (1857-1920)

 Comentário: Por ocasião do casamento da irmã Políxena, Cassandra está triste, porque prevê um futuro negro. Ela própria, em A Ilíada, estava prometida a Otrioneu, em A Eneida de Virgílio, a Corebo, que ajudou Príamo, quando Troia se incendiou, mas acabou por morrer, quando tentava salvar a noiva.

Este poema, refere as insígnias de  sacerdotisa que eram constituídas por uma faixa branca, atada na cabeça, da qual caíam fitas, de ambos os lados da face. No primeiro episódio da peça As Troianas de Eurípides, Cassandra, prevendo o futuro, também, arranca da cabeça as insígnias de lã, insígnias dos deuses.

A estrutura do poema baseia-se no monólogo de Cassandra no qual contrastam: o casamento de Políxena, irmã de Cassandra, e a destruição de Troia, ou seja a felicidade externa alterna com a capacidade da vidente que projeta os momentos de horror.

    O poema irradia a alegria da festa de casamento que se vai realizar e com a qual terminará a guerra de Troia. A multidão dirige-se para o templo de Apolo, onde a boda se celebrará, mas Cassandra vai sozinha para os bosques de loureiros de Apolo. Na estrofe final, a festa acabou. Aquiles está morto, Troia está em chamas, e todos os outros deuses fogem. 

 O monólogo de Cassandra desenvolve-se entre as duas cenas. Ouve-se aí o seu lamento, em relação a Apolo e à infelicidade da sua vida. Enquanto todos se  alegram, ela isola-se pois antevê a destruição que se aproxima.

No poema Das Siegfest (A festa da vitória), publicado em 1804, em Taschenbuch für Damen, Cassandra surge, junto às outras cativas troianas que se despedem, pesarosas, da sua terra natal, enquanto os Gregos celebrando a vitória se preparam para embarcar para a Grécia.

O poema incide sobre  o preço que os vencedores têm de pagar pela vitória. Mesmo, para quem vence, a vitória tem um preço. A guerra destruíra os melhores: Aquiles e Pátroclo, do lado grego, e Heitor, do lado troiano. Nem todos os que regressam  terão um acolhimento feliz.

Calcas invoca Atena; Ulisses, inspirado pela deusa, prevê o final de Agamémnon, sucumbindo às mãos de sua mulher Clitemnestra, porque o sacrifício de sua filha Ifigénia deve ser vingado.

A concluir o poema, Cassandra, expressando uma atitude de aceitação do destino humano: o homem, continuamente ameaçado pela adversidade, não pode fazer mais que viver o Carpe Diem, o dia de hoje:

De pó é todo o ser terreno

Como a névoa entre as colunas,

Todos os grandes terminam,

Só os deuses ficam de pé.

No cavalo do cavaleiro,

Nos barcos, pairam os medos,

Do amanhã nada sabemos.


No séc. III a. C., as profecias de Cassandra  foram tema de um longo poema de Lícofon  (330-325 a. C.), de Cálcis, na Eubeia. Alexandra ou Cassandra foi escrito por volta do ano 295.

O poema é constituído pelo relato de um mensageiro. Após o nascimento de Páris-Alexandre, período no qual, segundo algumas versões do mito, Cassandra começou a revelar os seus dons proféticos, Príamo, teme os dons proféticos da filha e a troça dos Troianos pelo que a manda encarcerar numa torre, vigiada por um guarda, encarregando  de registar as suas profecias, que lhe deviam ser comunicadas.

O texto é de leitura difícil. Escrito na altura da Primeira Guerra Púnica, narra as primeiras vitórias romanas, na Grécia e antecipa o  tema da glória de Roma, cantado três séculos mais tarde, por Virgílio, na Eneida. Nesta obra, é referido o noivado de Cassandra com Corebo, desfeito, pela morte deste.  No Canto III, Eneias salienta como a profetisa predissera os feitos heroicos da sua raça, numa altura em que ninguém acreditava nela.

O poema Alexandra constitui um documento histórico importante, pois reflete o impacto que a conquista dos reinos helenísticos pelos Romanos provocara nos seus contemporâneos. Em termos literários, foi apreciado pelos amantes da poesia entre os quais se contam o Imperador Adriano.

“Um jovem colocado à parte escutava aquelas estrofes difíceis com uma atenção ao mesmo tempo distraída e pensativa, e eu pensei imediatamente num pastor no fundo das florestas, vagamente sensível a qualquer obscuro grito de ave”. (Margueritte Yourcenar, Memórias de Adriano)

O grito de ave refere-se aos primeiros versos do poema, nos quais o mensageiro, introduzindo o tema, conta como Cassandra, após um grito confuso, profere palavras selvagens, imitando o discurso da esfinge.

Este excerto de Marguerite Yourcenar, em Memórias de Adriano mostra-se como o texto era apreciado pela sua beleza, poesia e força profética.

   Cassandra é identificada, por vezes, à pomba (vítima frágil de uma ave de rapina, ou de um lobo, representado por Ájax, tema muito representado na arte da Antiguidade). Por outro lado, simboliza, também, a andorinha, pela linguagem profética ininteligível.

Entre os séculos XIV a XVI, a figura de Cassandra é assimilada aos chamados Sibylenbücher, coletâneas de ditos proféticos populares, sendo prática comum a sobreposição de Cassandra a figuras sibilinas. Entre nós,  temos um desses exemplos  num Auto de Gil Vicente, Auto de Sibila Cassandra, representado no Natal, no início do século XVI. Cassandra é assimilada à Virgem Maria, pela sua capacidade profética, detentora dos mistérios primordiais. 

Ao nível da ópera, no séc. XIX, Cassandra foi a figura central dos primeiros dois atos da ópera Os Troianos de Berlioz (1803-1869). O libreto foi adaptado pelo próprio compositor, a partir da Eneida de Virgílio. Os dois primeiros atos narram a tragédia de Cassandra, durante a queda de Troia, sendo exaltado o amor entre ela e Corebo. É uma obra monumental, com passagens que se harmonizam com o poema de Schiller, 12º estrofe, quando Cassandra diz a Corebo, no final do III Quadro do I Acto: Eh bien! Voilà ma main/Et mon chaste baiser d´epouse/Reste! La mort jaluose/Prépare notre lit nuptial demain.

O tema do homem, imbuído da sua cegueira, ou vítima do destino, está patente, no II Acto, na Cena IV, quando, chegando à Grécia e perante o destino que a espera, exclama: O sentido das coisas! / Ah! Sim, eles são como fantasmas sem nome.

 No início do séc. XX, é tema de uma ópera  de Vittorio Gnecchi (1876-1954). Escrita entre 1901 e 1903, inspira-se na peça Agamémnon de Ésquilo.  O libreto, da autoria de Luigi Illico e do próprio Gnecchi, utiliza antigas melodias helénicas, que Gnecchi  recria numa  ópera moderna.

 No teatro, Cassandra é um tema muito tratado, em inúmeras obras.

 Na ficção, inúmeros romances debruçam-se sobre Cassandra. Um deles é o de Cassandra de Christa Wolf que, projetando a sua relação com o poder político da R.D.A.  profetisa uma trágica dissolução do estado. Na sua condição de prisioneira de Agamémnon, a caminho da execução, Wolf dá voz às premonições de um futuro de "exílio" dentro da Alemanha.   

O Romance Presságio de Fogo  de Marion Zimmler Bradley (1987) narra a Guerra de Troia, pela voz de Cassandra, assumindo esta  uma importância nunca obtida na Antiguidade. Através de Cassandra o relato da guerra de Troia adquire muita liberdade, purificando toda a ação na sua acuidade profética, em relação com o passado dominado pelo matriarcado e pelo culto da grande Deusa, integrando todas a ruturas que o domínio micénico trouxeram.  O novo poder integra tradições antigas como as  serpentes da grande Deusa  que deram lugar às de Apolo. O final é positivo, tornando-se Cassandra redentora da história da Mulher contra a Guerra.


21. Cassandra´s Dream

O filme “O Sonho de Cassandra”, de Woody Allen, considerado pelo próprio cineasta como um dos cinco melhores filmes de sua carreira, por outros nem por isso, é, no entanto, uma bela  atualização da tragédia grega e um veemente retrato da culpa. O nome Cassandra atribuído ao cão de uma das personagens do filme, depois ao barco onde se desenrola a tragédia é uma profecia do mal que irá acontecer.



22. Cassandra, Abba



Cassandra

                      Abba (1981)

https://www.youtube.com/watch?v=5fXDReLm4qM


Down in the street, they're all singing and shouting

Staying alive though the city is dead

Hiding their shame behind hollow laughter

While you are crying alone on your bed

Pity Cassandra that no one believed you

But then again you were lost from the start

Now we must suffer and sell our secrets

Bargain, playing smart, aching in our hearts

Sorry Cassandra, I misunderstood

Now the last day is dawning

Some of us wanted, but none of us would

Listen to words of warning

But on the darkest of nights

Nobody knew how to fight

And we were caught in our sleep

Sorry Cassandra, I didn't believe

You really had the power

I only saw it as dreams you would weave

Until the final hour

So in the morning your ship will be sailing

Now that your father and sister are gone

There is no reason for you to linger

You're grieving deeply but still moving on

You know the future is casting a shadow

No one else sees it, but you know your fate

Packing your bags, being slow and thorough

Knowing, though you're late, that ship is sure to wait

Sorry Cassandra, I misunderstood

Now the last day is dawning

Some of us wanted, but none of us would

Listen to words of warning

But on the darkest of nights

Nobody knew how to fight

And we were caught in our sleep

Sorry Cassandra, I didn't believe

You really had the power

I only saw it as dreams you would weave

Until the final hour

I watched the ship leaving harbor at sunrise

Sails almost slack in the cool morning rain

She stood on deck, just a tiny figure

Rigid and restrained, blue eyes filled with pain

Sorry Cassandra, I misunderstood

Now the last day is dawning

Some of us wanted, but none of us would

Listen to words of warning

But on the darkest of nights

Nobody knew how to fight

And we were caught in our sleep

Sorry Cassandra, I didn't believe

You really had the power

I only saw it as dreams you would weave

Until the final hour

I'm sorry Cassandra

I'm sorry Cassandra

I'm sorry Cassandra

I'm sorry Cassandra

I'm sorry Cassandra


Cassandra a partir de uma narrativa de Christa Wolf e música de Michael Jarrell


23.Cassandre. Michael Jarrel

   A “ópera falada” Cassandre foi escrita a partir da reinterpretação do mito grego pela escritora Christa Wolf que escolheu os excertos que estão na base da peça de Michael Jarrell: “palavras imersas no fluxo musical, nunca cantadas mas faladas”, que refletem sobre o papel da mulher na História e sobre o propósito das guerras. “Cassandra lança-nos afinal interrogações para todos os tempos, alertando-nos para os sinais que podem já estar à nossa frente: Podemos assinalar o momento em que começa uma guerra, mas quando começa a pré-guerra?” (Catálogo Casa da Música, Porto, 2022).

 Tendo como protagonista Leonor Silveira, e com execução musical do Remix Ensemble, foi apresentada em 8 de março de 2022, na Casa da Música, no Porto, inserido no ciclo “Música e Mito”. (Augusto M. Seabra, 8 de Março de 2022).

https://www.youtube.com/watch?v=jpucCUSOwW0

24. Cassandre, Michael Jarrel e Christa Wolf - Remix Ensemble, Casa da Música, 2022

Cassandra na literatura portuguesa


Cassandra no Auto de Sibila Cassandra de Gil Vicente

        Muy graciosa es la doncella
        cómo es bella y hermosa.

        Digas tú el marinero
        que en las naves vivías
        si la nave o la vela o la estrella
        es tan bella.

        Digas tú el caballero
        que las armas vestias
        si el caballo o las armas o la guerra
        es tan bella.

        Digas tú el pastorcico
        que el ganadico guardas
        si el ganado o los valles o la sierra
        es tan bella.

A Cassandra do Auto simboliza a liberdade de pensamento, a liberdade de interpretar com ideias próprias.

Cassandra

 

25. Cassandra. 

Sonhou ler o destino; e desejou nunca

o ter feito. Deixou de olhar para os homens,

quando adivinhou a sua morte; e desafiou

o céu, quando descobriu que nada existe

para além do azul. Percebo, pela

contração da sua coxa, que esboça

o desejo de se erguer; mas os braços

caem para trás das costas,

como se não tivesse já para

onde ir. No entanto, o fogo

que arde no altar ilumina-lhe

o rosto, condenando-a a ver

tudo o que acontece: os incêndios

que devastam a terra, um massacre

de mulheres, a inutilidade

das súplicas. E entrega-se a todos

os que passam à sua frente,

pedindo-lhes que apaguem a chama

para que um manto de treva

lhe cubra o corpo.

 Nuno Júdice ,  A pura inscrição do amor, p. 71


A Cassandra do Auto simboliza a liberdade de pensamento, a liberdade de interpretar com ideias próprias.

Apesar de ter concretizado o sonho de ler o futuro e intervir junto dos homens, o facto de ninguém acreditar nela, leva-a a apenas desejar nada ver, cobrir-se com "um manto de treva".

26. Cassandra


Kassandra

Homens, barcos, batalhas e poentes

Não sei quem, não sei onde, delirava.

E o futuro vermelho transbordava

Através das pupilas transparentes.

 

Ó dia de oiro sobre as coisas quentes,

Os rostos tinham almas que mudavam,

E as aves estrangeiras trespassavam

As minhas mãos abertas e presentes.


Houve instantes de força e de verdade

Era o cantar de um deus que me embalava

Enchendo o céu de sol e de saudade.

 

Mas não deteve a lei que me levava

Perdida sem saber se caminhava

Entre os deuses ou entre a humanidade.


Andresen, Sophia de Mello Breyner, Kassandra (1947) in Dia do Mar


 Na transposição do mito de Cassandra para a poesia de Sophia Andresen, o passado literário ressurge como a idade de Ouro que pode ser recuperada pela poesia a qualquer momento. A forma clássica é também recuperada com a função de expressar harmonia entre a forma e o conteúdo do soneto.

 Ao transpor o mito de Cassandra para o tempo da poesia, o sujeito poético, manifestamente, na primeira pessoas, além de retornar ao passado por apropriação do mito, também funde o presente e passado.

O sacrifício feminino de Cassandra – ter visões, profetizar e  ninguém acreditar nas suas profecias, excluem-na do viver em harmonia com outros seres (deuses e humanos) – desumaniza a sua condição de vida terrena, mas sacraliza a sua existência mítica.

Através do mito compreende-se que:

-um deus pode agir por veleidade, sacrificando os humanos

-há profecias que se realizam mesmo quando ninguém acredita nelas.


Cassandra e a Troika  (poema inédito)

                            Manuel Alegre

Quis falar com os da troika, mas não lho permitiram

Então Cassandra apareceu na rua

trazia um cartaz para entregar à Troika

saúde educação dizia ela. E havia

em seu olhar a cólera e a beleza

ela era a filha de Príamo aquela

por quem Apolo se apaixonou

nos seus ouvidos passaram as serpentes

e por isso ela ouvia o que ninguém ouvia

tinha vindo para avisar que a Troika

é o novo cavalo falso dentro da cidade

os seguranças rodearam-na mas ela falava

seus longos cabelos soltos sob o sol de Lisboa

clamava por justiça e dignidade

ouvissem ou não ouvissem ela era a sibila

e apontava o cavalo dentro da cidade.

        2.3.2013

     Manuel Alegre

 Manuel Alegre utiliza a figura de Cassandra para denunciar a intervenção da Troika, em Portugal, que poderá, segundo ele levar à derrocada da economia.


Heleno

  Heleno, irmão gémeo de Cassandra, também obteve o dom da adivinhação. Como ela, também, previu que a ida de Páris à Grécia seria nefasta.

 As profecias de Heleno indicaram que os gregos venceriam se conseguissem recuperar as flechas de Héracles em posse de Filoctetes ou se conseguissem entrar em Troia com o estratagema do  cavalo de Troia e se persuadissem o filho de Aquiles, Neoptólemo, a juntar-se à guerra. Neoptólemo estava escondido em Esciro, mas os gregos convenceram-no a ir a Troia.

Existem muitas versões sobre o destino de Heleno.


 Agamémnon

 

          27.Máscara funerária de Agamémnon


                                                      28.Vaso grego, morte de Agamémnon

 

Agamémnon, comandante supremo do exército grego na guerra contra os troianos,  era  rei de Argos e de Micenas.

A caminho de Troia, os navios gregos encontrando-se amarrados no porto de Áulis, pois não soprava nenhum vento favorável, o vidente Calcas anuncia que para que a situação se revertesse, Agamémnon deveria sacrificar a sua própria filha, Ifigénia, à deusa Ártemis, o que acaba por cumprir, com relutância, o que magoou a esposa Clitemnestra.

Após a Guerra de Troia fica com Cassandra como despojo de guerra que o avisa que seria assassinado quando chegasse a casa, previsão à qual ele não dá crédito. Contrariamente a outras versões do mito, na peça de Ésquilo, é Clitemnestra e não Egisto que mata Agamémnon, com uma espada, arma de guerreiros, num ato não impulsivo, mas planeado. Longe do arrependimento, sobrevém o orgulho.  

Clitemnestra: Assim tu me condenas ao exílio, ao ódio da cidade e as maldições do povo, enquanto a esse homem [Agamémnon] tu não te opunhas, ele que, sem honra alguma, como se fosse o destino de um animal, de abundantes ovelhas em um rebanho lanudo, matou sua própria filha, fruto amado do meu ventre, para enfeitiçar os ventos da Trácia. Não era ele que devia ser banido desta terra, em punição por seus miasmas? Ouvindo as minhas ações, tu te tornas um juiz severo. (Ésquilo, Agamémnon, 1412-1421)

Mais tarde, Orestes, filho de Agamémnon e de Clitemnestra, veio a vingar a morte do pai, assassinando a mãe à punhalada.


 "O adultério é muitas vezes uma forma desesperada de fidelidade”. Com efeito quando 

 pensamos em Agamémnon como bruto sanguinário comandante  numa guerra, sentimos, 

também neste homem uma sensibilidade extrema. 

“Só a lembrança do amor pode substituir o amor”- corroboram Agamémnon e Clitemnestra

 (Agamémnon ou o Crime, 2001).




29.Clitemnestra hesita antes de matar Agamémnon adormecido. Egisto incentiva-a. Pintura a óleo (1817), obra de Pierre-Narcisse Guérin.



Egisto

 

Egisto é filho  de Tiestes e de  Pelópia. 

Tornou-se amante  da rainha Clitemnestra, quando Agamémnon partiu para a guerra de Troia. Foi coautor da morte de  Agamémnon (seu primo),

Pretendeu matar sozinho Orestes, filho de Clitemnestra, mas este foi salvo por sua irmã Electra, que soube de toda a trama. Foi assassinado com Clitemnestra pelos dois, a fim de  vingaram a morte do pai.


  30.Egisto assinado por Orestes e Pilades – vaso grego, 430-300


A peça  Agamémnon ou o Crime foi representada em 2001, em Olhão a partir do texto de Marguerite Yorcenar e Yannis Ritsos, traduzidos por Fernanda Lapa, encenação de António Solmer, tendo como intérpretes António Rama no papel de Agamémnon e Fernanda Lapa no de Clitemnestra. A encenação foi de Antoninino Solmer; os figurinos de Luísa Pinto; montagem sonora de Paulo Curado e o desenho de luzes de Carlos Gonçalves.

 

 






                                                                                      31.Agamémnon e Clitemnestra



 


31. A história da guerra de Troia de Virgílio e Homero era muito conhecida da Inglaterra, desde a Idade Média. No Renascimento apareceram as traduções de a Ilíada de Arthul Hall, em 1581 (parcial) e a de George Chapman ( 1598 a 1611). Suscitando a curiosidade dos ingleses há ainda o facto do cronista inglês, Geoffrey of  Monmouth (1135-1139) contar a lenda que Bruto, bisneto de Eneias, expulso da Península Itálica, ter ido para Inglaterra. A ideia de que os reis ingleses teriam descendência troiana aumentou o interesse pelo tema, pelo que não será de estranhar que uma das peças mais complexas de Shakespeare (1564-16616) – Troilus e Créssida (1601-1602) se debruce sobre esta narrativa.


Mito de Cassandra – reflexão

Porque hay una historia que no está en la historia

y solo se puede rescatar aguzando el oído y

escutando los sussurros de las mujeres.

                                                      Rosa Monteiro B. C. Nº 42, A. P.E.C, U. C. (2004), pp. 199-214.


CASSANDRA: Quando tudo está bem, uma sombra pode derrubá-lo. Ésquilo, A Oresteia: Agamémnon.


  O alerta não dito ou não acreditado pelos demais, é muito explorado em diversas disciplinas. No entanto, podemos pensar que todos preferimos dar crédito a palavras animadoras (mesmo que enganadoras, como o arco-íris de “tudo vai ficar bem”) do que a previsões mais realistas mas que mostram o mal que pode seguir-se a uma ação.

Uma máxima muito adaptada, nos últimos tempos, ao planeta Terra que é maltratado e que mostra de quando em vez sinais de que padece e que é preciso recuar, ser menos ganancioso; as guerras que irrompem por todo o lado e que apresentam as mesmas causas; nós próprios quando tudo queremos e fazemos o mal, ou quando vemos o mal e tal como Cassandra não o proclamamos, antes calamos.

Segundo Rosemarie Nicolai, a tragédia grega As Troianas (415 a.C)  fora escrita para alertar os gregos para o perigo de uma expedição à Sicília, que envolvia um grande perigo, mas acaba por se realizar.

 Cassandra no poema de Schiller Das Siegfest (A festa da vitória), assume-se como contraponto, em relação aos vencedores. Embora seja impossível acabar com a Guerra é necessário advertir os vencedores sobre o preço da ambição e glória.

Talvez seja essa a razão pela qual Cassandra é inúmeras vezes representada em peças de teatro.

 La gran antagonista del héroe tradicional, del devorador de ambiciones, ciudades e fortunas, es sin duda Cassandra. Cassandra, la última y la primera, la hija de una tierra destruida, la extrangera, el botin de guerra, la fragil memoria y el saber del provenir nunca acatado y siempre advertido, seria por tanto el contraponto a las glorias de Agamenon, el guerrero dispuesto al sacrificio de la propria hija, el que pisa la alfombra púrpura, aquel que deseaba escarmentar a Troya e acaba arrasándola.

Cassandra é continuamente atualizada incorporando reflexões sobre os direitos das mulheres. 

Ao assumir o seu individualismo e ao desenvolver a sua capacidade reflexiva, dá nome a um fenómeno psicológico denominada síndrome de Cassandra. Com o avanço tecnológico e numa atualidade globalizada, perdemos a segurança das antigas sociedades, pairando sobre nós a insegurança, fonte de ansiedade e frustrações, pois não acreditamos nas nossas previsões.

   No mundo atual,  o efeito Cassandra está ligado a previsões sobre desastres ecológicos ou financeiros a partir da análise da realidade.

 

  Desta forma, Cassandra é porta-voz do destino, consciência funesta dos vencedores, alertando-nos para os perigos do individualismo, ou ajudando a reconstituir a história das mulheres e a visão feminina do mundo.


Bibliografia:

Barroso, Maria do Sameiro, Cassandra - Vox Femina Tragica III, Boletim de Estudos Clássicos, nº 42 (Dezembro de 2004).Associação Portuguesa de Estudos Clássicos, Universidade de Coimbra. pp 199- 214. Disponível em https://www.triplov.com/letras/maria_do_sameiro/schiller/cassandra_01.htm

Duby. George; Perrot, Michelle. Dir Pantel Pauline Schmitt. 1990. História das Mulheres - A Antiguidade. Círculo de Leitores. Porto. 

Ésquilo, Oresteia - Agamémnon, Coéforas, Euménides. 2021. Edições 70. Lisboa.

Eurípides, As Troianas.2021.  Edições 70.Lisboa, tradução de Maria Helena Rocha Pereira

Grimal, Pierre, Dicionário da Mitologia Grega e Romana.  Ed. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro:

Homero, Ilíada, adaptada para jovens por Frederico Lourenço. 2019. Quetzal

 Mireaux, Émile, A vida quotidiana no tempo de Homero, Edições livros dos Brasil, Lisboa

Pereira, Maria Helena da Rocha. 1982. Hélade-Antologia da Cultura Clásssica.F.L.U.C.I.E.C. Coimbra.


Webgrafia:

Agamémnon na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora- consultado  18-04-2022 

Disponível em https://www.infopedia.pt/$agamemnon

Agamémnon - disponível em : http://www.escolademulheres.com/producoes-2/2001-2/agamemnon-ou-o-crime/

 Cassandra - disponível em https://cultura.culturamix.com/curiosidades/cassandra-mitologia - consultada em 18 de janeiro de 2022

Cassandra disponível em : https://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/BEC41/12_-_CASSANDRA___VOX_FEMINA_TRAGICA.pdf

Cassandra — VOX FEMINA TRAGICA I -CASSANDRA, DE FRIEDRICH SCHILLER, Disponível em https://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/BEC41/12_-_CASSANDRA___VOX_FEMINA_TRAGICA.pdf

Cassandra - VOX FEMINA TRAGICA III - Disponível em https://www.triplov.com/letras/maria_do_sameiro/schiller/cassandra_01.htm

Boletim de Estudos Clássicos, Nº 42, Associação Portuguesa de Estudos Clássicos, Universidade de Coimbra, Dezembro de 2004, pgs.. 199-214.

 Manuel Alegre, Cassandra e a Troika, (poema inédito)- disponível em: http://www.manuelalegre.com/

Marguerite Yourcenar, Clitemnestra o el Crimen - disponível em:

https://www.apocatastasis.com/marguerite-yourcenar-clitemnestra-crimen.php



Figuras:

1.Cassandra Biblioteca de Apolodoro de Atenas. Disponível em:  https://fictionphile.com/cassandra-of-troy

2.Cassandra a e Ajax, 550 a. C. Disponível em:.https://stringfixer.com/pt/Cassandr

3.Ajax tomando Cassandra, c. 440–430 a. C. Louvre. Disponível em:  https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Aias_Kassandra_Louvre_G458.jpg

4.Cassandra e Ajax- ânfora de terracota, c. 450 a.C.  Disponível em:https://www.metmuseum.org/art/collection/search/254899

 5. .Ajax, o Menor, em Tróia, arrasta Cassandra de Palladium diante dos olhos de Príamo - mural romano da Casa de Menandro, Pompeia. Disponível em: http://ancientrome.ru/art/artworken/img.htm?id=8752

6. Disponível em: bit.ly/3OsO1sp

7. . Ajax e Cassandra de  Johann Heinrich Wilhelm Tischbein, 1806. Disponível em:http://www.hellenicaworld.com/Greece/Mythology/Paintings/en/AjaxAndCassandraTischbein.html

8. Ájax e Cassandra, Joseph Solomon, 1886. Disponível em:  https://cv.vic.gov.au/stories/creative-life/an-art-history-of-australia/ajax-and-cassandra-painting-by-solomon-j-solomon/

9. Helena e Cassandra, ilustração de Frederick Sandys (1832–1904). Disponível em: https://victorianweb.org/art/illustration/sandys/18.html

10.Cassandra a profetizar. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/Cassandra-Greek-mytholog

11. Cassandra coloca-se sob a proteção de Pallas, Aimé Millet (1819-1891), Jardim das Tulherias, Paris.  Disponível em:

.https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cassandra_puts_herself_under_the_protection_of_Pallas,_Aim%C3%A9_Millet_(1819-1891),_Tuileries_Garden,_Paris.jpg

12.Cassandra, estátua no Jardim de Flores de Kroměříž, Pernak, República Checa. Disponível em:                       https://kids.britannica.com/students/assembly/view/142612

13.Clitemnestra  a matar Cassandra . Disponível em:  https://www.worldhistory.biz/ancient-history/70028-clytemnestra.html

14.O assassinato de Clitemnestra c. 350 - 320 a.C. Disponível em:  https://www.theoi.com/Gallery/T40.9.html

15.Busto de Cassandra, de Max Klinger (Leipzig,  1857-1920). Disponível em: https://www.mutualart.com/Artwork/Bust-of-Cassandra/4E02ADC7E04DC463

16.Cassandra, Evelyn de Morgan, 1898, De Morgan Foundation, Battersea, London. disponível em:  https://stringfixer.com/pt/Cassandra

17.A primeira página de Troilus e Cressida, impressa no Primeiro Fólio de 1623. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:First-page-first-folio-troilus-cressida.jpg

18. A primeira página de Troilus e Cressida, impressa no Primeiro Fólio de 1623. Disponível em:  https://commons.wikimedia.org/wiki/File:First-page-first-folio-troilus-cressida.jpg

19. Cassandra, Troilus e Cressida. Edwin Austin Abbey (c. 1908).   Disponível  Cassandrahttps://stringfixer.com/pt/Troilus_and_Cressida

20. Cassandra, 1903. Artist: Klinger, Max (1857-1920). Disponível em: https://www.heritage-print.com/cassandra-1903-artist-klinger-max-1857-1920-14897032.html

21. Cassandra´s Dream. Disponível em: https://www.woodyallenpages.com/films/cassandras-dream/

22. Cassandra, Abba - disponível em https://www.discogs.com/release/7259862-ABBA-Cassandra-The-Day-Before-You-Came

23. Cassandre. Michael Jarrel. Disponível em https://www.fnac.pt/Cassandre-CD-Album/a577719

24.  Cassandre, Michael Jarrel e Christa Wolf - Remix Ensemble, Casa da Música, 2022. Foto particular.

25.  Cassandra. Disponível em: .https://www.forumancientcoins.com/cparada/GML/000PhotoArchive/033/slides/3308.html

26. Cassandra. disponível em: https://www.alamy.com/cassandra-1903-artist-klinger-max-1857-1920-image60390069.html

 27..Máscara funerária de Agamémnon. Disponível em https://greciantiga.org/img.asp?num=0298

28.Vaso grego, morte de Agamémnon. Disponível em https://greciantiga.org/img.asp?num=0046

29.Clitemnestra hesita antes de matar Agamémnon adormecido. Egisto incentiva-a. Pintura a óleo (1817), obra de Pierre-Narcisse Guérin.

30.Egisto assinado por Orestes e Pilades – vaso grego, 430-300

31.Agamémnon - consultado em 18-01- 2022, disponível em - http://www.escolademulheres.com/producoes-2/2001-2/agamemnon-ou-o-crime

32-Cressida, Shakespeare, o feminino e a guerra. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/pit500/article/view/8634705/2624

1. 

A NOSSA INTERPRETAÇÃO: 




CASSANDRA



Trabalho de :

 

Afonso Brandão Martins - 8º A

Dinis Brandão Martins - 8º A

Maria Miguel Teixeira Moura - 8º A







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