1. Ícaro, Henry Matisse (1943)
Embora
Minos nos feche a terra e o mar,
ao
menos o céu está aberto: iremos por lá.
Senhor
de todas as coisas, ele não tem domínio sobre o ar.
Ovídio,
Metamorfoses, 8, 185-187
Dédalo era um grande
arquiteto, escultor e inventor ateniense. A ele se atribuem grandes
obras de arte, algumas de caráter mítico, como as estátuas animadas de Platão
(Ménon, 97-98). Foi exilado de Atenas sob a acusação de ter matado o sobrinho
e ajudante, Talos, invejoso por este ter inventado o serrote ao ver uma espinha
de peixe.
Acolhido por Minos,
tornou-se o arquiteto oficial do rei e a seu pedido construiu o célebre Labirinto, no palácio de
Cnossos, onde foi encerrado o Minotauro, produto da união de Pasífae, esposa do
rei, com um Touro, que Poseidon fizera sair do mar, para que lhe fosse
sacrificado, conforme promessa de Minos. Perante o incumprimento deste, o deus fez com que Pasífae se entregasse ao
touro, depois de ter recorrido a Dédalo, que lhe fabricou uma novilha de
bronze, na qual se meteu para se unir ao animal e conceber o Minotauro. Para
alimentar este, Minos exigia de Atenas, anualmente, o tributo de sete rapazes e
sete raparigas. Teseu para pôr fim à sujeição integrou-se numa dessas levas
disposto a matar a fera o que conseguiu com a ajuda de Ariadne que inspirada
por Dédalo lhe recomendou que entregasse um novelo a Teseu para se orientar na
saída do Labirinto.
Minos, ao saber disso,
castigou Dédalo e seu filho, Ícaro, aprisionando-os lá dentro. Então, Dédalo
pensou que só poderiam fugir pelo ar, pelo que construiu asas para sair do
Labirinto juntamente com o filho. Recomendou-lhe que não se aproximasse
demasiado do sol e se afastasse do oceano. Todavia Ícaro deixou-se levar pela
liberdade do voo. Voou tão alto que o calor do Sol derreteu a cera que segurava
as penas das asas e caiu ao mar Egeu, afogando-se, para grande desgosto de
Dédalo que mais não pôde fazer do que observar e chorar a morte do filho.
A ilha ao largo da qual caiu
o corpo de Ícaro, designou-se Icária.
Dédalo refugiou-se na Sicília, terra do rei Cócalo que matou o rei Minos. Dédalo vendo-se livre deste, regressou a Atenas, já que Teseu tinha subido ao trono e revogara o seu exílio.
2. Dédalo, por Andrea Pisano (1290 — 1348/1349)
5. Rubens,
Peter Paul ( 1577 - 1640), A queda de Ícaro
6. O voo de Ícaro, Jacob Peter Gowy's (1630).
ÍCARO
O voo
desaba no céu
desagua
desarma
desata
c
ai
!
.
.
.
erra na terra
e se encerra em si
em
cio.
Cláudio Carvalho Fernandes · Teresina, PI, 25/5/2009
7. Dédalo e Ícaro de
Anthony Van Dyck (1599 - 1641)
8. Bruegel, Paisagem com a queda de Ícaro ( c. 1558), famosa por relegar a queda a um
evento pouco
notado em
segundo plano
Entretanto, Dédalo odiava Creta, odiava o longo exílio,
morto de saudades da terra natal. O mar aprisionava-o.
“Embora ele barre o meu caminho com as terras e o mar”,
disse, “ao menos, o céu está sempre aberto. Iremos por aí!
Minos pode ser dono de tudo, mas não é dono dos ares”
Assim dizendo, aplica o seu talento a artes desconhecidas
e revoluciona a natureza. De facto, dispõe penas em filas,
(começando pelas mais curtas, a curta seguindo a longa) 190
a ponto de se julgar crescerem num declive: assim cresce
gradualmente a flauta campestre com as suas canas desiguais.
Depois, prende-as a meio com um fio e a base com cera,
e, tendo-as assim prendido, dobra-as em suave curvatura
para imitar as aves verídicas. Com ele está o menino,
Ícaro. Sem saber que mexia em algo para si tão perigoso,
ora, de cara risonha, tentava apanhar as penas que a brisa
vagabunda movia, ora amolecia com o polegar a loira cera;
e com esta brincadeira atrapalhava o espantoso trabalho
do pai. Quando deu o toque final ao que tinha planeado,
o artífice aventurou-se a equilibrar o próprio corpo
no par de asas, e ficou suspenso no ar, assim agitado.
Equipando também o filho, disse: “Voa a meia altura, Ícaro,
recomendo-te, para que, se fores demasiado baixo, o mar
não pese nas penas, e, demasiado alto, não as queime o fogo.
Voa entre um e outro; não te ponhas, advirto, a contemplar
Bootes ou a Hélice ou a espada desembainhada de Orion.
Vem atrás de mim: eu guiar-te-ei.”. Ao mesmo tempo em que dá
tais instruções de voo, ajeita-lhe as inéditas asas nos ombros.
No meio do labor e advertências, molham-se de lagrimas
as envelhecidas faces, tremem as mãos de pai. Beija o filho,
beijos que jamais repetiria; e, elevando-se graças às asas,
levanta voo à frente. Tal como a ave ao guiar as frágeis crias
para fora do alto ninho pelo ar, ele receia pelo companheiro;
exorta-o a que o siga, e ensina-lhe as ruinosas artes
[e, batendo as asas, vai olhando para trás para as do filho].
Viu-os com espanto alguém que pescava com a trémula cana,
ou algum pastor arrimado ao cajado ou lavrador à rabiça
do arado, julgando que eram deuses aqueles que tinham
o poder de viajar pelos céus.
E já à já esquerda ficava
a Samos de Juno (para trás haviam deixado Delos e Paros),
e, à sua direita, Lebinto, tal como Calimne, rica em mel,
quando o rapaz começa a achar gozo no audacioso voo
e se afasta do guia. Arrastado pelo seu fascínio pelo céu,
rumou para as alturas. Ora, a vizinhança do sol voraz
amolece as odoríferas ceras que colavam as penas:
a cera derrete-se. Bem lá agita o rapaz os braços nus,
mas, sem asas para bater, não logra apanhar ar algum.
E a boca que gritava o nome do pai é acolhida pelas águas
azul-esverdeadas, que dele obtiveram o seu nome.
O pobre pai (que já nem pai era), “Ícaro!”, chamava,
“Ícaro!”, berrava. “Onde estás? Onde hei-de procurar-te?
“Ícaro!”, gritava. Então avistou penas a boiar nas ondas.
9. O
labirinto, Teseu e o Minotauro.
Século XVI , Itália, Escola dos Mestres des cassoni Campana, Louvre
11.Relevo do século XVII com um labirinto cretense em baixo à direita ( Musée Antoine Vivenel )
12.António Canova,
(1757 -1822) Dédalo e Ícaro
13.Dédalo a prender as asas a Ícaro, por Pyotr Ivanovich Sokolov (1777)
15. Frederick
Leighton (1830 – 1896), Ícaro
16. Dédalo fez asas de cera e de penas para si próprio e para o filho Ícaro que estavam aprisionados
Judie
Anderson/Encyclopaesia Britanica
“A meio da obra e
das advertências, na velha face deslizaram lágrimas
e as paternas mãos
tremeram. Deu a seu filho beijos
que não mais daria
e, elevando-se com o bater das asas,
toma a dianteira
do voo, temeroso pelo companheiro,
qual ave que do
alto ninho lança no espaço o filho inexperiente,
exorta-o a
segui-lo e dá-lhe instruções sobre a perniciosa arte.”
(Metamorphoses,
Livro VIII, versos 183 a 235).
19. Icaro e Dédalo (1799),Charles Paul Landon (1760–1826)
Ícaro
A minha Dor, vesti-a de brocado,
Fi-la cantar um choro em melopeia,
Ergui-lhe um trono de oiro imaculado,
Ajoelhei de mãos postas e adorei-a.
Por longo tempo, assim fiquei prostrado,
Moendo os joelhos sobre lodo e areia.
E as multidões desceram do povoado,
Que a minha dor cantava de sereia...
Depois, ruflaram alto asas de agoiro!
Um silêncio gelou em derredor...
E eu levantei a face, a tremer todo:
Jesus! ruíra em cinza o trono de oiro!
E, misérrima e nua, a minha Dor
Ajoelhara a meu lado sobre o lodo.
José Régio, “Poemas de Deus e do
Diabo”, 1969
Ícaro
O sol dos Sonhos derreteu-lhe as asas.
E caiu lá do céu onde voava
Ao rés-do-chão da vida.
A um mar sem ondas onde navegava
A paz rasteira nunca desmentida…
Mas ainda dorida
No seio sedativo da planura,
A alma já lhe pede impenitente,
A graça urgente
De uma nova aventura.
Miguel Torga
ÍCARO
De asas
mudas e cinzeladas
Ó
aventuroso, jubiloso.
Se acerca do
Sol.
No bosque de
nuvens torneadas,
Na paisagem
nocturna,
Sem beleza,
sem apear-se,
Dardejante
com
Asa da
descida,
Asas de
cinabre,
Asas de
perjúrio,
Asas
resplandecentes.
Se acerca do
Sol.
Olhando a
magnificência,
Devora o Sol
deflagrado.
Desvelado, a
profanar.
Ó peregrino
ardente, rejubilante,
Sem beleza,
sem apear-se.
Se acerca do
Sol.
Poema de
José Emílio Nelson (n. 1948)
poeta,
crítico e editor, é o pseudónimo literário de José Emílio de Oliveira Marmelo e
Silva, nascido em Espinho, em 17 de Maio de 1948.In Beleza Poética, 1979-2015
Ícaro
Da Mafalala
estorva-nos
a memória dos gregos
É um anjo negro segredado
e assim goza
de asas sussurrantes
Desce por entre
intervalos do vento
e findo o voo refunde
o modelo de cera
Como qualquer pássaro faz ninho
ele no vestido das mulheres
Sem céu fixo
exala a plumagem
da comum nudez interrompida.
Sebastião
Alba (1940-2000)
Poema visual publicado no Diário de Noticias em 1987
Paralamas do Sucesso, Tendo a Lua. Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=V5dbdETyezI
Tendo A Lua
Os Paralamas do Sucesso
Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografia, gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim
O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu
E lendo os teus bilhetes, eu penso no que fiz
Querendo ver o mais distante sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu
Tendo a lua
Aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia visita não de militares
Mas de bailarinos e de você e eu
Eu hoje joguei tanta coisa fora
E lendo os teus bilhetes, eu penso no que eu fiz
Cartas e fotografias, gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim
Tendo a lua
Aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia visita não de militares
Mas de bailarinos e de você e eu
Tendo a lua
Aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia visita não de militares
Mas de bailarinos e de você e eu
Compositores: Herbert Lemos De Souza Vianna / Teresa
Cristina Rocha Tillett
Letras de Tendo A Lua © Edicoes Musicais Tapajos Ltda
Ismália de Emicida, canção do álbum Amarelo
sob as vozes do próprio rapper, da cantora e atriz Larissa Luz e com declamação
da atriz Fernanda Montenegro.
Ismália, por sua vez, é um poema de Alphonsus de Guimaraens, escritor
mineiro ( 1870 – 1921). Alphonsus Guimaraens era o pseudónimo de Afonso
Henrique da Costa Guimarães publicado em 1923 e conta a história de Ismália,
que deseja a lua do céu e, também, a lua do mar:
Ismália de Emicida, canção do álbum Amarelo
sob as vozes do próprio rapper, da cantora e atriz Larissa Luz e com declamação
da atriz Fernanda Montenegro.
Ismália, por sua vez, é um poema de Alphonsus de Guimaraens, escritor
mineiro ( 1870 – 1921). Alphonsus Guimaraens era o pseudónimo de Afonso
Henrique da Costa Guimarães publicado em 1923 e conta a história de Ismália,
que deseja a lua do céu e, também, a lua do mar:
Com a fé de quem olha do banco a cena
Do gol que nós mais precisava na trave
A felicidade do branco é plena
A pé, trilha em brasa e barranco, que pena
Se até pra sonhar tem entrave
A felicidade do branco é plena
A felicidade do preto é quase
Olhei no espelho, Ícaro me encarou:
"Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num aguenta te ver livre, imagina te ver rei"
O abutre quer te ver de algema pra dizer:
"Ó, num falei?!"
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ela quis ser chamada de morena
Que isso camufla o abismo entre si e a humanidade
plena
A raiva insufla, pensa nesse esquema
A ideia imunda, tudo inunda
A dor profunda é que todo mundo é meu tema
Paizinho de bosta, a mídia gosta
Deixou a falha e quer migalha de quem corre com
fratura exposta
Apunhalado pelas costa
Esquartejado pelo imposto imposta
E como analgésico nós posta que
Um dia vai tá nos conforme
Que um diploma é uma alforria
Minha cor não é uniforme
Hashtags #PretoNoTopo, bravo!
80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo
Quem disparou usava farda (Mais uma vez)
Quem te acusou nem lá num tava (Banda de espírito de
porco)
Porque um corpo preto morto é tipo os hit das parada:
Todo mundo vê, mas essa porra não diz nada
Olhei no espelho, Ícaro me encarou:
"Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num aguenta te ver livre, imagina te ver rei"
O abutre quer te ver drogado pra dizer:
"Ó, num falei?!"
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
(Terminou no chão)
Primeiro cê sequestra eles, rouba eles, mente sobre
eles
Nega o deus deles, ofende, separa eles
Se algum sonho ousa correr, cê para ele
E manda eles debater com a bala que vara eles, mano
Infelizmente onde se sente o sol mais quente
O lacre ainda tá presente só no caixão dos adolescente
Quis ser estrela e virou medalha num boçal
Que coincidentemente tem a cor que matou seu ancestral
Um primeiro salário
Duas fardas policiais
Três no banco traseiro
Da cor dos quatro Racionais
Cinco vida interrompida
Moleques de ouro e bronze
Tiros e tiros e tiros
O menino levou 111
Quem disparou usava farda (Ismália)
Quem te acusou nem lá num tava (Ismália)
É a desunião dos preto junto à visão sagaz (Ismália)
De quem tem tudo, menos cor, onde a cor importa demais
"Quando Ismália enlouqueceu
Pôs-se na torre a sonhar
Viu uma lua no céu
Viu outra lua no mar
No sonho em que se perdeu
Banhou-se toda em luar
Queria subir ao céu
Queria descer ao mar
E num desvario seu
Na torre, pôs-se a cantar
Estava perto do céu
Estava longe do mar
E, como um anjo
Pendeu as asas para voar
Queria a lua do céu
Queria a lua do mar
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par
Sua alma subiu ao céu
Seu corpo desceu ao mar"
Olhei no espelho, Ícaro me encarou:
"Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num aguenta te ver livre, imagina te ver rei"
O abutre quer te ver no lixo pra dizer:
"Ó, num falei?!"
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
(Terminou no chão)
Ismália
(Quis tocar o céu, terminou no chão)
Fonte: Musixmatch
Compositores: Vinicius Leonard Moreira / Renan Samam /
Emicida
Letras de Ismália © Laboratorio Fantasma Producoes
Ltda Me
https://www.youtube.com/watch?v=vnVF7PcrYp8
Emicida ao unir Ícaro e Ismália com a realidade da negritude brasileira, enquadra
as pessoas no seu contexto social e político e, mostrando as desigualdades da sociedade.
Ao longo da canção denuncia toda a violência, culpabilização, criminalização e
legitimação da morte de seu povo. E as figuras de Ícaro e Ismália despojam-se
de desmesura quando reinterpretados como aqueles que sonham com o reino da
liberdade e, ao tentarem voar, caem.
O mito de Dédalo e Ícaro nunca deixou de
seduzir o homem pelo que tem sido adaptado a várias formas de arte.
No que respeita ao teatro,
destacamos a reinterpretação de Dario Fo de Ícaro, através da qual expressa a sua
deceção sobre o cenário político do seu país.
Dario Fo (Sangiano, 1926 – Milão, 2016) foi
um escritor, dramaturgo e comediante italiano a quem em 1997 foi atribuído o Prémio Nobel de
Literatura.
Dario
Fo e o mito de Dédalo e Ícaro
Dario Fo parece basear-se em Luciano, autor
do diálogo Icaro Menipo, ou o homem que voa sobre as ondas. No diálogo de
Luciano, Menippo deve subir ao Olimpo e por isso constrói umas asas, mas sem
cera, para poder voar bem alto. Do céu, observa cenas censuráveis e criminosas
como incestos, adultérios e assassinatos.
Dario Fo transforma esta visão. O seu Ícaro ao sobrevoar a ilha de Creta, observa cidades que à primeira vista lhe parecem felizes, mas logo revelam a sua natureza violenta e opressora, da qual Ícaro foge, lembrando-se do que já tinha experimentado no labirinto, à procura do ideal que o seu entusiasmo juvenil lhe diz dever conseguir na vida. No entanto, nas várias cidades que sobrevoa, encontra a mesma injustiça contra o ser humano mais fraco: mulheres apedrejadas, homens enforcados, prisões cheias, prantos e lamentos.
Dédalo, homem maduro, aprendeu que o homem é, alternadamente, opressor e oprimido, e que é preciso aceitar a realidade e lutar, na terra, pela melhoria do mundo. No entanto, o jovem Ícaro não ouve o homem e levanta voo, rumo ao céu onde pensa encontrar o seu ideal inatingível e irrealizável.
Integrado no semestre Europeu, a Europa em Coimbra, em 2021, foi levado à cena o espetáculo: Ícaro pela Trupe dos Bichos, teatro Black
Box.
“Esta peça é um objeto poético, que cruza metáforas por entre a música, o
desenho e a palavra. Um mergulho prazeroso e livre na potência evocativa e na
força plástica, poética e política destas narrativas, ao mesmo tempo datadas e intemporais.”
(Trupe dos Bichos. 2021) O texto é de Marta Bernardes; a música Pedro Moura e
Bruna Maia de Moura; a Interpretação de Carla Galvão e Bruna Maia de Moura; o
desenho e cenografia de João Alves. A Direção
Artística: Pedro Moura; Desenho de Luz: Mariana Figueroa. Coprodução Trupe dos
Bichos & CCB/Fábrica das Artes
O website All Music Guide (www.allmusic.com) conta no seu catálogo mais de oito mil referências para o mito de Ícaro e Dédalo, nas mais variadas vertentes musicais. De acordo com este site, há 174 artistas ou conjuntos musicais cujo nome remete ao mito de Ícaro, com algumas variantes (Ikarus, Icar, Icare, Vicare), por exemplo: Icarus (7 referências), The Icarus Line, Kid Icarus, Icarus Witch, Icarus Rising, The Icarus Machine, Fate of Icarus, Icarus Himself, Ikarus, Ickarus, When Icarus Falls, Training Icarus
Por exemplo, Il Cerchio d’Oro, fundado pelos irmãos Gino e Giuseppe Terribile, respetivamente baterista e baixista, dedicam o seu álbum Il Cerchio d´Oro, a Dédalo e Ìcaro.
25. Dédalo e Ícaro, Álbum
https://www.youtube.com/watch?v=p4w2BZXL6Ss
A banda Iron Maiden gravou Flight Of Icarus. Dédalo, ao contrário da versão narrada por
Ovídio, encoraja o filho Ícaro a voar alto, aproximando-se do Sol.
https://www.youtube.com/watch?v=bH7QI58DwJk
As the sun breaks, above the ground
As the ground warms, to the first rays of light
A birdsong shatters the still
See the madman in his gaze
Fly as high as the sun
On your way, like an eagle
Fly and touch the sun (yeah)
Looks the old man in the eye
As he spreads his wings and shouts at the crowd
In the name of God, my father I'll fly
As he flies on the wings of a dream
Now he knows his father betrayed
Now his wings turn to ashes to ashes his grave
Fly as high as the sun
On your way, like an eagle
Fly, touch the sun
Fly as high as the sun
On your way, like an eagle
Fly as high as the sun
On your way, like an eagle
Fly, touch the sun
On your way, like an eagle
Fly
A dança é uma das artes da antiguidade que ombreia com o teatro e música. Na Grécia, a dança era frequentemente vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos. Há uma dança tradicional, o Ikariotikos, da ilha de Ikariá, onde teria caído Ícaro. Esta dança é tradicional de todas as ilhas do Mar Egeu e é conhecida por toda a Grécia, bem como a música que a acompanha, a Ikaria. Noutros tempos, era dançada com os braços cruzados, hoje, os dançarinos seguram-se as mãos ou apoiam-nas nos ombros uns dos outros
ShakallisDance2017 - Ikariotikos & Hasaposerviko/Koulouriotikos. Disponível em:
Muitos
filmes de Hollywood possuem como base da sua trama o mito de Dédalo e Ícaro.
Por exemplo, grande parte da filmografia de Orson Weles, incluindo Cidadão Kane e Soberba.
Todas
as versões de O grande Gatsby possuem
o mesmo tema. O mesmo pode ser dito de Sacarface,
Era uma vez ... em Hollywood, cuja versão mais recente se deve a Tarantino.
Também, Touro Indomável, Sangue Negro
e a série Boardwalk Empire, ainda que
os protagonistas, sejam mais anti-heróis sem remissão possível.
Comentário:
O mito de Dédalo e seu filho Ícaro representam as limitações físicas do ser humano, apesar da sua criatividade. Enquanto jovens, temos grandes sonhos e grandes projetos em mente, e procuramos realizá-los de forma entusiasta. No entanto, por vezes, perdemos o bom senso, tornamo-nos imprudentes, podendo comprometer toda a nossa vida.
Dédalo é a mente criativa que não pode ser asfixiada. Ícaro é a liberdade sonhadora sem limites que nos pode levar à queda.
Este mito apesar da sua complexidade, dá
especial relevância às asas inventadas por Dédalo, símbolo de elevação, crescimento o que acarreta, sempre, risco.
O mito de Ícaro retrata o deslumbramento que sentimos ao ascender
rapidamente nas nossas vidas, o que muitas vezes nos pode levar a uma queda
brusca. Ícaro quis voar o mais alto possível e foi punido pela grandeza de seu
sonho.
Com efeito, a ambição humana de cruzar os
céus foi uma tentativa constante capaz de mover a conceção de vários aparelhos, ao longo dos tempos.
Por exemplo Leonardo da Vinci tentou
engendrar asas capazes de o elevar nos ares.
No entanto, as asas referidas no mito podem
entender-se como sendo as da imaginação humana que, ao tentar obter o que lhe
parece impossível, acaba sempre por criar novos, e mais ousados, objetivos.
Contudo é preciso ter cuidado com a
forma como se pretendem alcançar esses objetivos, para que a queda não aconteça, como aconteceu com Ícaro, o jovem que voou demasiado alto, numa ação que
o precipitou no mar.
Desta forma, o mito mostra como os humanos
deverão pensar nas consequências reais dos seus atos.
Há ainda um outro pensamento a ter: se Dédalo
é um genial inventor, o episódio que leva à sua expulsão de Atenas é o de um
mero mortal, com falhas humanas, como a inveja que o leva a pensar em
assassinar Talo.
Tendo em conta que Dédalo, na maturidade,
incita Ícaro à prudência, o mito contém uma interessante dualidade: a
curiosidade juvenil de Ícaro, opõe-se à experiência da maturidade, que parece
ter aprendido com os erros do passado.
Se a ousadia de Ícaro é certamente um dos
mais importantes aspetos da mente humana, é também necessário viver com a
prudência de Dédalo, sem a qual algumas
decisões se podem tornar muito perigosas. Há que saber quando se deve arriscar
e quando devemos retrair os impulsos
curiosos.
Voar uma ambição sempre renovada
Voar é um desafio, um risco, sempre uma busca da liberdade, uma tentativa de se igualar ao ato de criação, transformar em pássaro, sermos nós mesmo, ir o mais alto que se consegue.
Webgrafia:
Álbum de Il
Cerchio D´Oro, Dédalo e Ícarohttps://www.youtube.com/watch?v=bH7QI58DwJk
Artrianon. Disponível
em:
https://artrianon.com/2018/04/30/obra-de-arte-da-semana-a-mitologia-grega-em-sky-full-of-song-de-florence-and-the-machine/
Capara,
Loredana de Stauer, Dario Fo e o Mito de Dédalo e Ícaro. 1997. Faculdade de
filosofia, Letras e Ciências Humanas. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/letrasclassicas/article/view/73718
Clássicos.Disponível: https://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/humanitas48/18_Ribeiro_Ferreira.pdf
Diálogos
literários. https://dialogosliterarios.files.wordpress.com/2013/12/51.pdf
Ícaro.
Disponível em: http// coimbraconvento.pt/agenda/Icaro-trupe-dos-bichos
Iron Maiden - Flight Of Icarus (Official Video).
Disponivel
em:
https://www.youtube.com/watch?v=p4w2BZXL6Ss
Mito de
Dédalo e Ícaro. Disponível em: http://www2.dlc.ua.pt/classicos/internet.pdf
Ovídio, Metamorfoses, livro VIII
(183-235 a.C.)
Tradução de Paulo Farmhouse Alberto. Disponível em:
Poema visual
publicado no Diário de Noticias em 1987. Disponível em:
https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/exposicao-de-poesia-visual
Que filmes
assim já vimos? Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/03/cultura/1567518278_350381.html
Trupe dos
bichos. Disponível em http// coimbraconvento.pt/agenda/Icaro-trupe-dos-bichos
Figuras:
1 Ícaro, Henri Matisse. Disponível em: https://terraingallery.org/aesthetic-realism/art-criticism/the-joyous-drama-of-outline-and-color-icarus-by-henri-matisse/
2. Dédalo, por Andrea Pisano (1290 — 1348/1349). Disponível em: https://www.alamy.com/stock-image-daedalus-inventor-of-arts-andrea-pisano-1334-36-pisano-1290-1348-is-163212790.html
3. Dédalo esculpe a estátua de uma vaca 1533, Museu Nacional da Cerâmica, Sèvres https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9dalo
4. Carlo Saraceni (1579-1620), A queda de Ícaro, c.. 1608), Galleria Nazionale de Capodimonte, Napoli. Disponível em: https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Carlo-Saraceni/44935/A-queda-de-%C3%8Dcaro.html
5.A queda de Ícaro, Rubens. Disponível em: https://dialogosliterarios.files.wordpress.com/2013/12/51.pdf
6.Jacob Peter Gowy, A queda de Ícaro. Disponível em https://artrianon.com/2018/04/30/obra-de-arte-da-semana-a-mitologia-grega-em-sky-full-of-song-de-florence-and-the-machine/
7. Dédalo e Ícaro de Anthony Van Dyck (1599 - 1641). http://www.island-ikaria.com/about-ikaria/Ikaros-Myth
8. Bruegel, Paisagem com a queda de Ícaro ( c. 1558). Disponível em: https://stringfixer.com/pt/Icarus_(mythology)
9. Ovídio, Metamorfoses, livro VIII (183-235 a.C.).Tradução de Paulo Farmhouse Alberto. Disponível em: https://viciodapoesia.com/2013/09/16/pais-e-filhos-e-o-mito-de-icaro-fragmento-de-metamorfoses-de-ovidio/
9. O labirinto, Teseu e o Minotauro. Século XVI , Itália, Escola dos Mestres des cassoni Campana, Louvre. Disponível em: https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Master-of-the-Campana-Cassoni/70686/Teseu-e-o-Minotauro,-da-hist%C3%B3ria-de-Teseu.html
10.Dédalo e Ícaro - Domenico Piola, 1670 - (coleção privada (Génova, Itália). Disponível em: http://www.island-ikaria.com/about-ikaria/Ikaros-Myth
11. Carlo Saraceni, Enterro de Ícaro, Napoles, Museu Nacional de Capodimonte, 1606-7. Disponível em: https://ilmegliodiinternet.it/icaro-colui-oso-visto-nellarte/
11. .Relevo do século XVII com um labirinto cretense em baixo à direita ( Musée Antoine Vivenel ). Disponível em: https://stringfixer.com/pt/Icarus_(mythology)
12.António Canova, (1757 -1822) Dédalo e Ícaro. Disponível em. https://artrianon.com/2018/04/30/obra-de-arte-da-semana-a-mitologia-grega-em-sky-full-of-song-de-florence-and-the-machine/
13.Dédalo a prender as asas a Ícaro, por Pyotr Ivanovich Sokolov (1777). Disponível em:
http://www.hellenicaworld.com/Greece/Mythology/Paintings/en/DaedalusIcarusSokolov.html
14. O Sol ou a Queda de Ícaro (1819) de Merry-Joseph Blondel, Rotunda de Apolo, Louvre. Disponível em: https://stringfixer.com/pt/Icarus_(mythology)
15. Frederick Leighton (1830 – 1896), Ícaro. Disponível em : https://pt.wahooart.com/a55a04/w.nsf/O/BRUE-8BWTYQ
16. Dédalo fez asas de cera e de penas para si próprio e para o filho Ícaro que estavam aprisionados, Judie Anderson/Encyclopaesia Britanica
17. Rebeca Matte, Monumento Unidos en la gloria y en la muerte, Bronze. Museu Nacional de Bellas Artes Santiago do Chile. 1922. Rebeca Matte. Disponível em: https://historiadaparte.wordpress.com/rebeca-matte
18. Rebeca Matte Aviadores. 1922. Praça Mauá, Rio de Janeiro – Tribunal Internacional de Justiça. Bronze. Rebeca Matte. Disponível em: https://historiadaparte.wordpress.com/rebeca-matte
19. Ícaro e Dédalo (1799),Charles Paul Landon (1760–1826). Disponível em https://artrianon.com/2018/04/30/obra-de-arte-da-semana-a-mitologia-grega-em-sky-full-of-song-de-florence-and-the-machine/
20. Lamento por Ícaro, Herbert Draper (1863-1920) - https://artrianon.com/2018/04/30/obra-de-arte-da-semana-a-mitologia-grega-em-sky-full-of-song-de-florence-and-the-machine/
21. Galileo Chini (1873-1956). Queda de Ícaro. (1907). Disponível em: https://ilmegliodiinternet.it/icaro-colui-oso-visto-nellarte/
22. Marc Chagall, La caduta di Icaro, Parigi L’Opéra national de Paris, olio su tela 1975. Disponível em:https://ilmegliodiinternet.it/icaro-colui-oso-visto-nellarte/
23.Queda de Ícaro, Grafitti numa rua da ilha de Icaria da vila de Evdilos em Icaria, Grécia. Disponível em: https://stringfixer.com/pt/Icarus_(mythology)
24. Dario Fo, de La Storia della Tigre e altre storie. Disponível: https://www.amazon.it/Storia-Della-Tigre-Altre-Storie/dp/B01BQI5O14. 27.04.2022.
25. Dédalo e Ícaro, Álbum. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p4w2BZXL6S
26. Flight Of Icarus, 1983 ,Iron Maiden . Disponível em:https://www.ironmaiden.com/discography/singles-and-live
27. Leonardo da Vinci. Disponível em: https://www.elhombre.com.br/leonardo-da-vinci-habito/
28. Leonardo da Vinci. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/140890-leonardo-vinci-500-anos-9-melhores-invencoes-genio-renascentista.htm
29. Leonardo da Vinci. Disponível em: https://super.abril.com.br/ideias/quatro-invencoes-praianas-de-leonardo-da-vinci/
30.31 - Videos de Berta Isidro
Bibliografia.
Dedalo e Icaro: Historia Para un Laberinto ( 1998). Cerezales, Agustin; Cerezales, Manuel; Cerezales, Silvia, Anaya Comercial.
A NOSSA RECRIAÇÃO:
Presos por Minos, Dédalo e Ícaro
Do labirinto queriam escapar
Por isso pensaram em forma
De de Creta se porem a andar.
Minos controla a terra
Minos controla o mar
Mas ainda não controla
O grande elemento ar.
Começa, então, o projeto
De Dédalo para voar
É que ele decidiu
Grandes asas fabricar.
Umas asas feitas de cera
Com penas para ajudar
Este plano era
A única forma de escapar.
Quando as asas ficaram prontas
Dédalo foi Ícaro avisar
“Não voes perto do Sol”
“Não voes perto do mar”.
Perto do Sol não voes
Que asas derretem e cais
Perto do Mar não voes
Que se te molhas não voas mais.
Assim que voaram
Ícaro sentiu-se atraído
Voou para perto do Sol
O que não fez sentido.
Ícaro caiu ao mar
Afogado ele morreu
E tudo porque
A Dédalo não obedeceu.
Martim Teixeira- 8ºD
Guião de Dédalo e Ícaro
Dédalo sentia-se preso com o filho Ícaro, naquele labirinto de Cnossos. ( as duas figuras ficam atadas e esperneiam para se tentar libertar). Fora ele que o construíra a mando da rainha Parsifae. Posídon fê-la apaixonar-se por aquele touro branco que saíra do mar para que o seu esposo Minos o sacrificasse. Como não o fez, o deus vingou-se. E ele Dédalo é que tinha que fazer todo o trabalho sujo. Tinha engendrado uma toura maravilhosa, na qual a rainha se escondeu e que imediatamente seduziu o touro branco. Desta união, nasceu o monstro, coitado, sem culpa nenhuma!
Minos o rei que o acolhera, exigia, todos os anos 7 raparigas e 7 rapazes a Atenas, a terra que tinha escorraçado Dédalo. É que cometera um crime! Quando viu o sobrinho a partir de uma espinha de peixe conceber um serrote, ficou cego e quis matá-lo. (Dédalo segura figura de espinha de peixe e serrote) Não era ele Dédalo o grande inventor?
Fugiu para Cnossos onde concluiu a grande obra do labirinto, no qual Minos encerrou o Minotauro. Custava-lhe ter concebido uma prisão! Quando viu que Ariadne se apaixonou por Teseu, resolveu ajudá-lo a encontrar o caminho da saída. Deu um fio a Ariadne para que o entregasse a Teseu (mão masculina entrega fio a mão feminina) para o desenrolar até encontrar o Minotauro e depois segui-lo em sentido inverso. Assim foi feito. Teseu foi salvo e toda Atenas ficou livre do tributo. Sentia-se penitenciado por todo o mal causado no passado. Mas estava cativo, também, e com o filho.
Estamos cercados por mar e por terra, só temos o ar.
- Não somos pássaros – exclamou Ícaro - a exercitar os braços.
- Não somos mas podemos sê-lo- replicou o pai pensativo.
Vou construir umas asas para cada um de nós. Fugiremos a voar, afinal o sonho de todos os homens! Farei umas asas coladas com cera.
Não poderemos voar muito perto do sol, que as derreterá, nem muito perto do mar que as atrairá para o abismo – recomendou Dédalo.
Isso mesmo pai! – Construímos as asas
Dédalo ajusta as asas em Ícaro. Lançam-se em voo.
No entanto, Ícaro entusiasma-se demasiado e aproxima-se do sol que lhe descola as asas e o lança ao mar. (aproxima-se do desenho do sol e cai ao mar). O pai, Dédalo, recolhe-o angustiado.
Afinal a sua vitória foi o seu maior falhanço!
Para perpetuar a memória fundou Icária.
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